Como é possível a Agrofloresta produzir até 25 toneladas de alimentos por hectare, com custo mais baixo e ainda melhorando o solo?
A natureza é sem dúvida surpreendente!!! Como é possível a agrofloresta produzir até 25 toneladas de alimentos por hectare (ou 25 kg por metro quadrado, anualmente), com baixo custo e ainda melhorando o solo? Se comparado ao sistema convencional de produção.
Com um sistema de monocultura irrigada com pivô, sistema de alta tecnologia e caríssimo, com rotação de culturas é possível atingir no máximo 15 toneladas de Soja, milho e feijão em um hectare por ano, onde além de água vão toneladas de adubos químicos (fertilizantes) e agrotóxicos (defensivos agrícolas), solo perdido por erosão, aquecimento do local, compactação e impermeabilização do solo, prejudicando a recarga dos lençóis freáticos, as margens dos rios e a qualidade da água. E se não utilizarmos pivô e plantio rotacionado essa média de produção desce para de 2 a 5 toneladas.
Além da produtividade (produção por área) a qualidade dos alimentos produzidos são muitos diferentes entre os dois sistemas. Na Agrofloresta é possível trabalhamos com alimentos de maior valor agregado como tubérculos, frutas, castanhas, plantas medicinais, grãos, cereais, hortaliças e até madeira.
Agora, vamos fazer uma continha com base no modelo que utiliza os princípios e dinâmicas da sucessão natural e da estratificação. Só por alto para lembrar: O princípio da sucessão permite que se produza diferentes tipos de plantas em uma única área de acordo com seu ciclo de vida (tempo). A estratificação permite a otimização da captação de luz (fotossíntese) considerando as diferentes necessidades por luz e a arquitetura de cada planta.
Considerando 1 hectare de agrofloresta: Onde o espaçamento entre os canteiros (linhas) de frutíferas são de 5 metros entre si e largura de 1 metro. Que entre cada canteiro (linha) de frutífera há 3 canteiros de 1 metro cada para as culturas anuais (roça).
Produção Consorciada por hectare/ano. A partir do ano 4 pode se ter as produtividades abaixo. Mas calma, não precisa esperar 1, 2, 3, até 20 anos para começar a colher! Dependendo do desenho do seu SAF é possível colher a partir do primeiro mês.
Culturas perenes / ciclo médio e longo/ pioneiras e secundárias – extrato arbóreo médio / extrato arbóreo inferior:
- Bananas 2 * 18 m
- Limao etc. 4 * 6 m
- Café 4 * 6 m
- Abacate 10 * 10 m
- Mamao 4 * 6 m
Culturas anuais / ciclo curto / Roça / Placenta – Extrato herbáceo / extrato arbustivo:
- Mandioca 2*1 m
- Milho Verde 2*1
- Feijao 2*1
Total Culturas anuais + perenes —> 25 toneladas/hectare/amo
Olericultura (hortaliças, legumes e vegetais) / Placenta – Extrato herbáceo:
Vamos considerar um consórcio bem simples e já difundido e que o 1 hectare (10 mil m2) dessa agrofloresta seja dividido tenha 100 metros de largura e 100 metros de comprimento. Isso dá 20 linhas de canteiro de frutíferas + 54 linhas de canteiros de roça —-> 54 linhas de 100 metros = 5.400 m2 de canteiros para nossas hortaliças. Como elas tem o ciclo curto e são bianuais (é possível plantar e colher duas safras por ano) temos:
- Rucula
- Alface
- Couve Flor / Repolho
Consideramos aqui um consórcio de hortaliças e verduras utilizadas em muitos desenhos de SAF sintrópicos, como o sistema FILHO, recém lançado pela Embrapa (Sistema Filho: fruticultura integrada com lavouras e … – Infoteca-e), baseado no modelo desenvolvido pelo pesquisador Ernst Götsch no Sítio Semente em Brasília. Você pode conhecer réplicas desse sistema em várias cidades e estados brasileiros.
Veja um croqui ou uma planta baixa e um desenho de corte transversal do modelo de SAF para entender como a estratificação possibilidade essa variedade de consórcios. Trata-se do aumento da eficiência no aproveitamento da luz. Uma máquina de fotossíntese. É como se ao invés de plantar apenas em área plana o plantio fosse feito em vários andares (extratos) de um prédio (floresta). O manejo e as podas vão influenciar muito na dinâmica e nesses resultados.
A independência de adubação e correção anual do solo dá-se principalmente pelo manejo de podas e com a cobertura de solo, que além de produzir uma terra de qualidade química, física e biologicamente falando, retém água, matéria orgânica, acaba com problemas de erosão e promove a infiltração de água (poupança de água) e a recarga dos lençóis freáticos.
A biodiversidade promove o equilíbrio biológico e elimina a necessidade de aplicação de defensivos químicos (agrotóxicos).
As condições climáticas do local de plantio (microclima) favorecem a saúde das plantas, não as expondo a estresses por excesso de insolação, ventos e variações bruscas de temperatura. E ainda a evapotranspiração das plantas promove a chuva.
Aqui está nossa vocação como um país florestal. Nação da abundância de água e biodiversidade. A oportunidade de geração de renda e valor para todo o mundo. Esse é o modelo “Apple” de produção.
A resposta bem resumidamente é simples: Menos custo de produção com insumos, mais produtos em volume e qualidade, maior valor agregado, maior diversidade de produtos e consequentemente menos risco na hora da venda.
Vale lembrar uma coisa: Apesar desses índices de produtividade variarem de acordo com o clima, região, solo, quantidade de tempo e recursos para investir, intensidade do manejo, os sistemas agroflorestais (a lógica da sucessão e estratificação, consorciação e outros princípios) podem ser implementados praticamente em qualquer lugar ou bioma do mundo).
Espero ter te auxiliado a entender um pouco mais a lógica das agroflorestas sintrópicas.
Agora eu lanço um desafio ao mesmo tempo uma ajuda para você. Topa? Imagine que você tenha implementado esse sistema no seu sítio, chácara, fazenda, até mesmo no quintal. Produzindo esse cardápio que detalhamos acima, qual seria a receita bruta com a safra de um ano? Nem precisa calcular como preço de orgânicos, pode ser os preços de mercado de alimentos convencionais e nos diga qual seria a sua receita bruta total!
Agradecidos pela oportunidade de trocar essas idéias!
Há braços!